quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

A saliva do cão.

Em momento dado do destino, a tarde ficou cinza e a casa toda escureceu.
Ele poderia envelhecer aqueles dez anos só naquelas horas, mas se levantou, colocou seu chinelo de dedos, arrastou sua cadeira para fora do quarto até a varanda decidido a ver a chuva.
Já que tudo estava tão atípico, sentou-se do lado de fora onde podia sentir o ar.

Resolveu vagar pela favela do seu pensamento, se pondo a questionar porque o mesmo aceitava complacente, todas as peças que o coração lhe pregava.
O livro que trazia nas mãos, continuava, só em suas mãos.
Seguia mergulhado em sua meditação, até que a sua atenção foi assaltada, não pelo barulho da chuva, não pelos trovões, não pela velocidade do vento que aumentava, mas pela pequenina língua que acabava de tocar seus dedos dos pés sem nenhuma permissão, num ato de extrema inocência daquela pequena bola coberta de pelos pretos.

Ele esquece tudo, aceita humildemente o convite do animal e agradece com um suspiro profundo à aquela tarde generosa.

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